Thursday, April 02, 2009

Projeto Na Boa Companhia

Na Gávea, Rio de Janeiro, arte e educação caminham juntas


Foto: Márcio e Dado com integrantes do projeto Na Boa Companhia (divulgação)

Márcio Januário e Dado Amaral idealizaram um projeto, colocaram em execução e estão a colher bons frutos, com esforço e dedicação, voltados à arte e educação de alunos e comunidade, entre 15 e 24 anos de idade. Na Boa Companhia nasceu em 2006, durante o curso de teatro do Colégio Estadual André Maurois, na Gávea (Rio de Janeiro).

Convidados por Marília Gil, coordenadora pedagógica do Colégio, para ministrarem um curso de teatro, Dado e Márcio apresentaram uma proposta com o objetivo de “proporcionar ao jovem e adolescente uma formação educacional alternativa à da sala de aula, estimulando a leitura, a pesquisa, a escrita e a criatividade através da discussão de temas atuais e pertinentes ao cotidiano dos alunos”.

De acordo com os autores do projeto, o principal foco é o estímulo ao empreendimento do aluno. “Aqui os alunos são convidados a criar projetos, escrever e participar de concursos, estágios etc. Num momento em que se discute e se repensa a educação no Brasil, constatamos que práticas educacionais extra-curriculares realizadas no espaço escolar, reforçam a criatividade, estimulam a iniciativa, a relação com a cultura e melhoram muito a relação do aluno com a escola. O mesmo se dá em relação ao convívio do jovem com a família e a comunidade onde vive, pois ele passa a atuar como um agente cultural”.

Nesta linha, o grupo de 25 alunos formado em 2006 produziu a peça “Filhos deste solo”, que trata de temas do cotidiano dos jovens como preconceito racial, violência, gravidez na adolescência, marginalidade, entre outros, escolhidos pelos próprios autores, os alunos do grupo.

A peça foi recebida com entusiasmo na escola, tendo os professores sugerido que se publicasse o texto, o que está a ser desenvolvido. O espetáculo foi apresentado também no Colégio Estadual Ignácio Azevedo Amaral. Em 2007, o projeto tomou outras dimensões adotando o formato de companhia de teatro. A partir daí, a companhia segue apresentando-se em diversos espaços, como Gentileza 90 Anos (Rodoviária Novo Rio), Fiocruz (II Mostra de Teatro, Ciência e Cidadania), no SESC Petrópolis, Casa da Paz (Rocinha), em outros colégios e mensalmente no Teatro do Jockey.

Hoje são 50 alunos, entre 15 e 24 anos, vindos de várias comunidades próximas à escola, ou nem tanto, como a Rocinha, Vidigal, Cruzada, Cantagalo, Cidade de Deus, Rio das Pedras, Taquara, Vargem Grande, Freguesia, Gardênia Azul, Jacarepaguá, Copacabana, Leblon, Humaitá e Campo Grande. Nesta vertente, a companhia trabalha a integração com a meta de se apresentar em cada comunidade, “para melhorar a auto-estima do aluno e para que os integrantes do grupo conheçam as comunidades uns dos outros”.

Alguns dos ex-alunos estão a participar do projeto como monitores e há os que estão ligados à fundação da companhia, que também prevê a implantação de um cineclube, com debates após as sessões, a ser iniciado no segundo semestre deste ano.

Ainda por desenvolver está um centro cultural e biblioteca no colégio, para retomar sua tradição cultural e estimular os alunos a terem outra relação com a escola, unindo prazer e entretenimento aos estudos e à reflexão, proporcionando atividades que os mantenham por mais tempo no espaço do colégio. O projeto já recebeu alguns livros e espera que a futura biblioteca fique operacional em tempo integral.

Após participarem da primeira edição do projeto, alguns ex-alunos já se destacam em outros cenários. Quatro passaram no teste para integrarem-se a outras companhias, alguns estão a trabalhar na parte técnica do teatro, quatro já trabalharam como monitores na Academia Brasileira de Letras, durante a exposição sobre Machado de Assis, três tiveram destaque em projetos de micro-empresa, dois foram premiados em um projeto da PUC de Diplomacia, vários estão a trabalhar em atividades culturais da escola e no Grêmio-Rádio-Jornal. Outro importante feedback do projeto foi a premiação do grupo no concurso da escola alemã, sobre Direitos Humanos.

Na consolidação desta iniciativa estão novos apoios incorporados como bolsas de estudo, com material didático, para curso de inglês do Brasas English Course, aulas semanais de canto com Ananda Kavan e Lila Shakt, oficina de fotografia com Nico Oved, aulas de capoeira, pintura em tecido, artes plásticas, danças brasileiras, meditação, Yoga, cabeleireiro com profissionais do salão Fast Hair, maquiagem, manicure, coordenados por voluntários, e ainda a realização de um festival de música.

Uma boa novidade para este 2009 também é a produção de um programa para a TV Comunitária do Vidigal e da Rocinha, TV VDG e TV ROC. O formato já está esboçado pelos alunos. De acordo com Dado e Márcio, sempre é possível levar os alunos para uma conversa-entrevista ao final de espetáculos que o grupo é levado a assistir em outros locais, reunindo algumas gravações que poderão ser editadas brevemente e inseridas no programa.

Já em Março os alunos colheram entrevistas com funcionários e alunos da escola, além de pessoas da comunidade e de moradores mais antigos do bairro. “Toda a ideia e formatação ficam por conta dos alunos. Nós orientamos e co-dirigimos quando necessário”, destacam os autores do projeto.

No momento, as dificuldades de execução do programa se apresentam pela falta de equipamentos próprios para filmagem e edição, mas há todo um esforço em conjunto para vencer estes obstáculos. De acordo com Márcio e Dado o projeto está amparado pela Lei Rouanet para captação de apoios e pretende ampliar sua atuação. “É possível melhorar nossa cidade, nosso país e nosso planeta”, reforça Márcio Januário.

Recentemente os alunos criaram um blog que pode ser acompanhado no endereço: Na boa cia

Breve perfil dos autores:

Dado Amaral

Dado Amaral é graduado em Jornalismo e Mestre em Literatura pela PUC-Rio. Estudou teatro no Tablado(1986-90) e em oficinas com Antônio Nóbrega, Ariane Mnouchkine, Hamilton Vaz Pereira, Denis Carvalho, Luiz Carlos Vasconcelos e outros. Atuou em várias peças teatrais, entre elas O Ateneu (1987), O Jovem Törless, (CCBB, 1996) e A Farsa (CCBB, 2005), na qual foi diretor assistente. Foi assistente de Hamilton Vaz Pereira nas peças Notícias Silenciosas (1991) e 5 Vezes Comédia (1994). Atuou nos filmes Como ser solteiro (Rosane Svartman, 1996) e Conceição (2007), e nas novelas De Corpo e Alma e Páginas da Vida (TV Globo). Apresentou o programa Que papo é esse?, no Canal Futura, sobre questões cotidianas de adolescentes.Realizou nove filmes, entre eles Porr Gentileza (2002) – prêmio Riofilme – e O Rio Severino (2005) – prêmio Edital MinC de Curtas. Foi um dos criadores do BOATO, grupo que por 10 anos realizou performances, filmes, shows e o CD Abracadabra (1998). Desde 1998 trabalha no grupo Nós do Morro, como diretor musical de espetáculos e como professor de música e teatro. Montou com seus alunos os espetáculos Noites do Vidigal (2005), Vozes do Mundaréu (2006) e Auto da Compadecida (2007-08). É integrante do movimento “Rio com Gentileza”, que realiza eventos e projetos inspirados nas mensagens e na obra do Profeta Gentileza. Colaborou por um ano com o projeto Favela no Ar, ministrando oficinas de teatro dentro do programa Escola Aberta, na E. M. Almirante Tamandaré, no Vidigal.

Márcio Januário

Márcio Januário começou como bailarino no espetáculo "Quadros de Dança" (1983), com o grupo "Nós da Dança", direção de Regina Sauer no Teatro Villa-Lobos. Trabalhou como bailarino, coreógrafo e cantor em várias companhias, musicais, desfiles e televisão. Entre eles, "Theatro Musical Brasileiro", Teatro João Caetano, "O conquistador", Teatro Villa-lobos, "Espelhos Velados", CCBB, "Anticorpos do planeta", TV Búzios. Com sua banda "Seu Januário e todos os santos" fez shows em casas noturnas no Rio e em Nice (França). Coreografou "Bafafá” de Goldoni, no Paço Imperial (1987), "Esse cara não existe", de Evandro Mesquita, Teatro Leblon (2003). "A Farsa", Caco Coelho, CCBB (2005), "Fama Zero", Teatro Cândido Mendes (2006), e "Noites do Vidigal", que co-dirigiu com Dado Amaral no Nós do Morro (2006). É coreógrafo do grupo circense Irmãos Brothers há 7 anos. Em 2006, o monólogo "Tratado do Vão Combate", de sua autoria, foi selecionado para a "V Mostra de Teatro de Petrópolis". De 2002 a 2004 desenvolveu, com o diretor David Johnson, o projeto "Santa Marta and Drama Project", criando uma conexão entre os alunos da Ponsa (Pequena Obra Nossa Senhora Auxiliadora) do morro Dona Marta e os alunos da British School de Botafogo. Lecionou por dois anos no grupo Nós do Morro, no Vidigal. Participou do projeto “Favela do No Ar”, apresentando um programa na rádio comunitária do Vidigal, e ministrando oficinas de dança e teatro para as crianças da comunidade na Escola Municipal Almirante Tamandaré, em 2005/2006.

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Wednesday, February 18, 2009

A criatividade de Mário Lúcio


Foto: No palco do Café Concerto, Mário Lúcio, Ana Capicua e Carol.

O músico, compositor e cantor Mário Lúcio esteve no I Festival Lusófono de Teatro Intimista de Matosinhos para uma apresentação, brindando a iniciativa que envolve artistas de países que têm em comum não só a Língua Portuguesa, mas outros elementos também.

Natural da Ilha de Santiago, uma das 10 existentes no arquipélago de Cabo Verde (África), aos 7 anos de idade saía pelas ruas a tocar tambor e a recitar poesias. Músico autodidata, cresceu aprendendo a tocar outros instrumentos, a compor e a fazer os próprios arranjos de suas melodias e letras.

No liceu, formou um grupo musical e tocava guitarra e logo integrou-se ao grupo Abel Djassi (que leva o nome de guerra de Amilcar Cabral). Foi estudar Direito em Cuba e montou lá uma banda. No regresso à Ilha de Santiago formou a banda Simentera, gravando quatro discos, numa parceria que durou cerca de 10 anos. Partiu em 2002 para a carreira solo e está em seu terceiro trabalho, Badyo.

“Sempre trabalhei sob a perspectiva da música tradicional com uma leitura contemporânea. Cresci ouvindo todos os gêneros, na diversidade e riqueza com as bases que o país me dá”, reforça Mário Lúcio. O CD Badyo é um verdadeiro mergulho na música caboverdiana. Em cada faixa há explicações do gênero abordado, da origem e dos instrumentos tradicionais e alternativos utilizados para os arranjos.

Didaticamente descritos em Badyo, é possível conhecer os ritmos Batuko, Coladera, Funaná, Colá, Tabanka, Tchoro, Ladainha, Morna. Ritmos que podem ser considerados uma verdadeira miscigenação da cultura musical caboverdiana ou afro-europeia. A África levou para o mundo os seus ritmos, originando outros como, por exemplo, o samba, mas também recebeu influências de ritmos e instrumentos levados por muitos povos.

No texto de abertura está escrito que Badyo é ”o nome por que é conhecido hoje o habitante de Santiago, a primeira ilha a ser habitada no Arquipélago de Cabo Verde. Mas Vadio era todo o negro que recusava a condição de escravo; e, livre, não reconhecia o controlo das instituições sociais dominantes”.

O texto também explica que Badyo “é o ancestral do Homo Criolo. Não só nos trouxe ao mundo como também ao mundo nos levou: para a América do Norte, Antilhas, América Central, Brasil, Argentina, Europa, espalhando e assimilando novos ritmos além-mar, toques e tiques que um dia voltariam em instrumentos como o bandoneón , o cavaquinho, a guitarra, o piano, a harmónica”. Entre outras citações, Mário Lúcio situa que a música de Cabo Verde é mais antiga do que se pensa e mais moderna do que parece.

“Badyo é uma referência do primeiro escravo liberto de Santiago”, diz Mário Lúcio que buscou nestas origens a sonoridade para compor este trabalho. Mistura cavaquinho, violão e outros instrumentos tradicionais aos sons alternativos extraídos de caneca de arroz, tigela, tábua de lavar roupa, panelas, frigideiras, balaios, cestos, milho, água, entre outros.

O resultado é harmoniosamente “puro”, como pontua o músico. “No processo de produção de um trabalho vou tirando as sonoridades que ‘escuto’”, ou sente serem as ideais. “Insiro instrumentos que consigo manejar razoavelmente e quando este ultrapassa a minha capacidade de execução aí chamo outro músico”, revela Mário Lúcio.

Seu instrumento predileto é o violão mas também gosta muito do Corá, “em que a ‘cara’ do instrumento está voltada para o músico e não para o público”, o único neste género, segundo ele; e do acordeão, “que se toca um pouco em cima do coração”.

No terceiro disco de sua carreira, Mário Lúcio contou com a participação de trompetista e violonista alemão, no quarto trabalho recebeu o sax de Manu Dibango, dos Camarões, a participação de Maria João, Mário Laginha e Paulinho da Viola. No primeiro trabalho solo, o músico fez parceria com Luís Represas e Gilberto Gil, que destacam umas entre tantas que teve ao longo de seu percurso.

A pesquisa musical é uma preocupação e característica constante no trabalho de Mário Lúcio. “Busco as raízes africanas e europeias das músicas que faço e partilho com o meu próprio povo que, por vezes, desconhece essas origens”, reforça. Disponibilizar estas informações também revela outro objetivo de seu trabalho que é mostrar às pessoas o roçar de ritmos que se parecem, que estão ligados à musicalidade de Cabo Verde e vice-versa.

“A musicalidade que temos em Cabo-Verde, originária dos séculos XV e XVI, é uma viagem aos ritmos próprios e que chegaram de outras culturas. O Funaná, por exemplo, é executado com acordeão e reco-reco”, explica, o acordeão trazido da região de Trás-os-Montes (Portugal). O Tabanka, segundo o músico, é muito próximo à sonoridade da música brasileira.

Esta autenticidade e sinceridade do artista também passam por outros elementos. Durante a sua apresentação no Festival, Mário Lúcio incluiu no repertório a música de Carlos Puebla, Hasta Siempre, num elo forte com o que até hoje é vivo de Che Guevara, tridimensional, captando o universo de um momento único. “Sente-se o legado e ouve-se Che através desta música”. Mário Lúcio revela que Hasta Siempre, uma das mais belas composições da história da música, sob a sua concepção e conhecida por ele há muito tempo, poderá ser a razão de sua ida à Cuba.

Mário Lúcio faz referência a Dalai Lama, na música Alter, como elemento Samgha da sua comunidade espiritual, como amigo. “Partilhamos os mesmos ensinamentos. Ele (Dalai Lama) me ensinou a usar estes ensinamentos. É um dos seres humanos mais evoluídos. Perdeu a guerra mas não a paz”, diz o músico e reza parte da letra. Mas de acordo com ele, esta música não foi composta pela causa do Tibet, mas pela ‘causa’ em si e poderia ter citado também outros, como “Nélson Mandela ou todo aquele que dá a outra face. A utopia em som. Todo homem que sonhou com justiça, os que sofreram, os que viveram mudanças, escutam essa ‘música’”.

Sobre a participação no Festival Lusófono, Mário Lúcio ratifica que deu o seu aval e apoio pela iniciativa desde o inicio. “A Lusofonia não se resume na língua. É um espaço de gente, de pessoas que têm em comum a passagem de Portugal e de portugueses. Na verdade é um legado histórico que não pertence a nenhum país. É a culinária, os elementos musicais, o vestuário, a caligrafia, os nomes, sobrenomes e apelidos, os traços genéticos, físicos, e uma certa mentalidade portuguesa que nós temos e que faz parte de nossos conflitos internos”.

Mário Lúcio defende a criação de uma entidade independente, a criação de um espaço, com a participação de intelectuais, músicos e outras pessoas de outros lugares como também Benin, Goa”.

Em Badyo as letras das músicas estão na língua crioula caboverdiana, com observações em português e tradução das letras para o inglês. Esta opção, em passar a letra original para a inglesa é explicada por Mário Lúcio como uma “escolha de equilíbrio, de uma língua que pouca gente fala bem e outra que todo mundo fala mal”. Ele defende que a gramática do futuro é o “entendimento”.

“Sempre traduzo minhas músicas diretamente para uma língua”, o que já o fez em Português, Inglês e Francês, a fim de preservar a pureza dos significados que cada idioma requer adequadamente. Do próximo disco só conseguiu-se saber que haverá músicas traduzidas para o Espanhol. Mário Lúcio lançou Badyo em Junho de 2008. Sua turnê já incluiu Brasil, Portugal, França, Alemanha, Áustria, Luxemburgo, República Checa e Suíça.

Outras rotas e Filhos da Ilha

O atual trabalho de Mário Lúcio traz alguns significados de termos em ‘Outras Rotas’. Entre os exemplos, o autor cita que um dos ritmos dos Nawabas arábico-andaluzas, ligado à temática do lamento, do amor, da partida, da poesia, chama-se Qudâmm, que se crê estar na origem da palavra saudade. “Filhos da Ilha”, escrito por Mia Couto, fecha o disco com um texto sobre a música de Cabo Verde e o trabalho de Mário Lúcio.

Na área comum do Residencial Senhor de Matosinhos, Mário Lúcio se despede e para o público deixa uma mensagem: “leiam “Mensagem”, de Fernando Pessoa”.

Gêneros do disco Badyo:

Batuko – A primeira música das ilhas, nascida da toada mandinga, do toque bantu, do canto wolof. (Canção Amar Elo (Aflor)).

Colecho – Ritmo do pilão, o toque alternado de quatro no interior e no exterior do pilão, quando quatro mulheres pisa o milho para o xerém, nas festas de S. Filipe, no Fogo. Nascido em Santiago, do cruzamento entre toques de África e tambores de Europa. (Canção Alter).

Cimboa – É um instrumento. Simboliza o Batuko; o cavaquinho, a Coladera; a gaita, o Funaná; e as vozes e a percussão, a Tabanká. (Canção Corre Xintidu).

Funaná – Ritmo nascido por volta do séc. XIX; toques Bantus, instrumentos alemães, acordeão diatongo, trazidos da região de Trás-os-Montes (Portugal), todos vindo de uma cadência vindos do sul de África. (Canção Diego e Cabral).

Tabanka e Funaná – As nossas primeiras danças em que homem e mulher se viram fundidos num só. (Canção Dodu).

Coladera-Samba – Um dos novos ritmos do cruzamento e da viagem inversa, na época em que os marinheiros brasileiros tocavam o porto do Mindelo. (Canção Maremar).

Coladera – What Country is this? (Canção Maria na Spedju).

Coladera – É claro que aqui colou costela Congo e Mandinga. (Canção Goré).

Tchoro – Em Cabo Verde quando se chora, canto e pranto se confundem. Chorar assim chegou a ser proibido por ordem do Rei. (Canção Nhu Ariki).

Funaná lento – Ritmo que os gaiteiros chamam de Santiago na gaita, que Kaká Barboza apelidou de Funamba. (Canção Pretty Down).

Ladainha – Missa negra cantada a quatro vozes em Latim. Em Santiago ainda se usa para nos despedirmos dos mortos e aliviar-lhes das faltas cometidas. Herança dos Fulas, dos Balantans, dos Hamar da Etiópia. (Canção Reza 1).

Funaná – Do interior do interior de Santiago, do interior do exterior, do Ocidente de África, da África do Ocidente (Canção Santo Amado).

Funaná de tchaskan, isto é, cru, natural, originalmente tocado com acordeão diatongo e uma barra de metal como percussão. (Canção Scodja).

Coladera-samba – Aqui chamado. Mas o Tango é aqui chamado também. (Canção Simples Sample)

Tabanka – De todos, das tradições europeias, dos rituais e danças africanos, dos primeiros instrumentos da Ilha, de Santiago para o carnaval brasileiro. (Canção Strela).

Morna – Nascido entre Brava e Boa Vista, no final do séc. XIX. A sagração da universalidade Crioula em Cabo Verde. (Canção Um mar de mar).


Breve Currículo: Mário Lúcio
Natural de: Ilha de Santiago
Idade: 44
Formação: Direito e músico autodidata
Discos: 7

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Saturday, February 14, 2009

I Festival Lusófono de Teatro Intimista de Matosinhos

HáMares 2009



Artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal comparecem e apresentam espetáculos intimistas de teatro e música, exposição de artes plásticas e oficinas de teatro no Cine Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos (Portugal).

O Festival será encerrado hoje com a peça “Memórias Póstumas de Brás Cubas“ como pode ser conferido no link: http://teatroreactor.bloguepessoal.com/

Aqui você acompanha alguns momentos que marcaram a iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos e Teatro Reactor.

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Thursday, January 22, 2009

Projeto Terra do Sol

Mestre Índio à frente de ações esportivas, culturais,
sociais e ambientais



Roda de capoeira com Mestre Índio, professores e alunos do Projeto Terra do Sol. Praia de Pitangui - Natal - Rio Grande do Norte - Brasil.


Ele foi campeão de Lambada da América Latina em 1996, mas Mestre Índio reúne em seu currículo muito mais do que performances de dança. Está engajado no Projeto Terra do Sol, de cunho esportivo, cultural, ambiental e social, que desponta na praia de Pitangui (Natal, Rio Grande do Norte, Brasil).

Cícero Alves do Nascimento (Índio), ou Mestre Índio como é conhecido entre os capoeiristas, completa hoje 48 anos de idade e tem muito que comemorar. Mantém, com entusiasmo, esforço, dedicação e amor, o projeto que atende gratuitamente mais de 40 alunos de capoeira, em sua maioria crianças e adolescentes.

Atualmente, as atividades desenvolvidas pela equipe Terra do Sol inclui aulas de capoeira, danças folclóricas e acompanhamento pessoal aos alunos com relação à escola e à família. O corpo docente é representado por Mestre Índio, Sherra, Cicatriz, Júnior Aranha e conta com os estagiários Gordinho e Patrícia.

O projeto é aberto a crianças e adolescentes entre 4 e 14 anos de idade, desde que estejam estudando e que apresentem autorização dos pais ou responsáveis, e também a adultos.

Em sua base, o projeto, concebido por Mestre Índio e outros mestres de capoeira, consiste ainda em levar a prática da capoeira em escolas da rede municipal e estadual de Natal, com uma equipe de professores que fazem parte do projeto.

Simultaneamente, o projeto prevê a parceria com universidades e estudantes de pós-graduação em diversas áreas como História, Sociologia, Direito, Música, Fonaudiologia, Educação Física e da área de Saúde para acompanhamento em visitas periódicas às escolas, ministrar palestras e aulas teóricas, mas esta etapa ainda está por se concretizar pois necessita de apoio.

De acordo com Mestre Índio, este apoio foi solicitado ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte e da Prefeitura de Natal, para a ajuda de custos e para a aquisição de uma sede própria. No entanto, o projeto está aberto à colaboração da iniciativa privada.

Independentemente da confirmação destes apoios solicitados, Mestre Índio custeia sozinho esta iniciativa há um ano, numa sede provisória localizada na praia de Pitangui, e, paralelamente, desenvolve eventos alternativos para manter o projeto vivo e atuante como o Axé Natal (Convenção Internancional de Capoeira, evento que reúne a comunidade capoeirista de várias partes do mundo e do Brasil) e o Eco-Capoeira (que consiste em ações de educação ambiental com a população de Natal).

“É difícil manter o projeto porque estou a investir praticamente sozinho desde o início. O apoio que estamos aguardando nos possibilitaria difundir melhor o nosso trabalho e atender muito mais alunos. Procuramos não só ensinar a capoeira como orientar os alunos na conscientização da preservação do meio ambiente, em ações simples e eficazes no combate ao desperdício, ações comunitárias que beneficiam a todos, valorizando a nossa cultura e a integração de todos”, sustenta Mestre Índio.

Perfil

Mestre Índio iniciou-se na Capoeira em 1973, na Academia Bantús de Angola, em São Paulo e também percorreu outras academias como a São Bento Pequeno, Quilombo dos Palmares e Quilombinho. Entrou para a dança com o Grupo Folclórico Unidos da Zona Sul, em 1978, também na capital paulista. Em Maio de 1980 fundou a Associação de Capoeira Terra do Sol. Em 1984, fundou em Natal (RN) a Cia. de Dança Terra do Sol. A partir daí assinou diversas coreografias e apresentações pela capital do Rio Grande do Norte, bem como ministrou cursos de dança e capoeira. Foi Diretor do Departamento de Dança do Rio Grande do Norte, em 1993, Presidente Nacional da Associação Brasileira dos Professores de Capoeira, em 1994 e Coordenador Regional da Confederação Brasileira de Capoeira, em 1995.

Em 1996 desenvolveu vários simpósios e congressos universitários de capoeira na UFC, UNICAP, UNB, entre outras. Já em 2001, Mestre Índio foi Supervisor de 19 núcleos de capoeira no Estado do Rio Grande do Norte e, em 2004, responde pela criação e presidência do CENTREC (Centro de Treinamento Especializado em Capoeira). Em 2005 desenvolve o Programa de Dança e Capoeira na Escola como Atividade Curricular.
Ao longo de sua carreira, formou capoeiras e dançarinos que hoje estão a trabalhar não só no território brasileiro como em diversos locais do mundo.

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Thursday, December 06, 2007

A vida em movimento


Eles deixam saudade quando partem, mas regressam sempre com muita alegria. É assim com a família Mariani, que vive desde sempre a vida circense e há 13 anos comanda o Circo Mundial de Portugal, percorrendo o território nacional e também o de Espanha. Entre Dezembro de 2006 a Janeiro de 2007 estiveram em Vila Nova de Gaia, e permitiram-me acompanhar o dia-a-dia da trupe e a vida atrás dos bastidores. E agora estão de volta!!!

Rubem é o filho ‘do meio’ dos Mariani (Rui e Clotilde), e define o circo como “a vida em movimento”. Nascido em Lisboa, viveu com os avós e estudou antes de se dedicar a tempo integral ao trabalho com a família. Cheio de energia e com muito fôlego, faz de tudo um pouco no Circo, e faz muito. Corre para lá e para cá, acerta contratos de artistas para temporadas, coordena e executa a montagem e desmontagem das estruturas dos chapitôs, dirige caminhão, trator, e quando abrem-se as cortinas, rende-se às luzes da ribalta e faz o que de melhor sabe e gosta: animar a platéia.

No picadeiro Rubem é carismático, ágil e entre um número e outro pode estar na sonoplastia como DJ, ou nas arquibancadas como fotógrafo, ou mesmo junto à trupe dos personagens mais engraçados do circo, os palhaços. Nem precisa dizer que o seu maior talento é a empatia com o público.

Aos 23 anos de idade, Rubem diz que leva o circo dentro do peito e que somente quem nasce neste meio é que pode saber exatamente como é viver o Circo. “Para quem não nasceu no circo é difícil de se adaptar”, conclui. Entre as suas lembranças, carrega o Verão de 1990, quando, atuando no Circo Chen, conheceu Marcos Frota, ator e também artista dedicado ao universo circense de malabaris em terras brasileiras e que fez temporada em Portugal.

Rubem está sempre atento a tudo o que é preciso para manter o circo em evidência e garantir o sucesso dos espetáculos. E orgulha-se em contar que o pai já trabalhou com circo em Marrocos, Moçambique, Angola, Itália e Espanha; experiências que transmitiu-lhe com muito amor e carinho.

Mário, o filho mais velho (26 anos) estudou até o 9º ano e também está a trabalhar com a família a tempo integral. Desde miúdo gosta muito dos animais e há dez anos é o domador dos tigres do circo. Mário faz números de Mágica e está sempre a colaborar com tudo o que for preciso no dia-a-dia da família, como construir um trailer, supervisionar o cuidado dos animais etc.


Artistas e Estudantes

Já a caçula da família, Carole (13 anos), assume desde pequena o seu lado artístico. Estudante do 8º ano, está inscrita no programa Escola Móvel, do Ministério da Educação, destinado às crianças que, como ela, vivem uma vida itinerante e precisam estar com os estudos em dia. A Escola Móvel é uma experiência de ensino à distância (através da Internet) para os filhos dos profissionais itinerantes, nomeadamente da população circense e feirante.

“O processo inovador de ensino demonstra ser uma prática possível entre esta comunidade educativa itinerante, e apresenta-se como uma experiência educativa suscetível de vir a ser utilizada em outras realidades sócio-educativas que impossibilitem ou dificultem a presença dos alunos numa sala de aula tradicional”, segundo informações do site da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação.

Nestre programa, Carole recorre às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) através da utilização de uma plataforma de ensino virtual, acompanhando o conteúdo das disciplinas, realizando trabalhos e tirando dúvidas. Tem seu portátil como ferramenta e utiliza o sistema wireless para acesso à Rede. Este programa não a exclui de participar da escola tradicional, onde ela pode estar na biblioteca e contar com o apoio de professores e orientadores, como acontece quando está em Vila Nova de Gaia e frequenta a Escola EB 2/3 Teixeira Lopes.

Depois dos deveres escolares, Carole dedica-se ao Circo e revela muita coragem quando entra no picadeiro com a mãe e a cunhada, apresentando um número com serpentes. “Filho de peixe sabe nadar”, diz Carole em seu trailer, juntamente com seus primos David (8 anos) e Daniela Torralvo (10 anos). Carole quer ser professora de ginástica e não pensa em abandonar a vida do circo. “Gosto do circo desde pequena e nunca pensei em largar esta vida. Eu gosto de entrar na pista, embora algumas meninas e meninos não gostem, eu, pessoalmente, adoro”, conta. Entre suas lembranças, Carole orgulha-se em dizer que seu pai foi um dos primeiros trapezistas voadores de Portugal, ao lado dos tios Aderito e Fernando, e que a mãe também já apresentou-se em picadeiros de vários países e até na região autônoma de Macau.

Daniela e David não são alunos da Escola Móvel porque a idade e o nível escolar em que estão não os permitem desfrutar do programa do Ministério da Educação, e têm ainda que frequentar as aulas em cada sitio que o circo aporta. Daniela (10 anos) está no 5º ano e apresenta no circo o número dos arcos, e David (8 anos) é aluno do 4º ano, mas ainda não é artista circense. Em particular revela que o seu grande sonho é ser policial. Como a maioria das crianças, eles gostam muito dos shows circenses e não sentem dificuldades em viver uma vida itinerante.


Trupe 2006/2007

Nesta temporada, o Circo Mundial contou com uma trupe de 45 artistas, entre portugueses e estrangeiros de Argentina, Espanha, Letônia e Hungria. Naturais de Tomar, os portugueses Carlos (44 anos) e Adelino Saraiva (42 anos) fizeram neste final de 2006 e início de 2007 o número de palhaços.


Há 18 anos trabalhando juntos, os irmãos estão na vida circense há dois e radicaram-se em Espanha. “Gosto muito da vida do circo, mas fiz um curso de Desenhador da Construção Civil e gostaria de trabalhar com esta área”, revela Carlos, no camarim, após um espetáculo.


A romêna Raluca é de poucas palavras mas de grande simpatia, e está com os Mariani há um ano. Juntamente com o português Carlos, Raluca é responsável pela alimentação dos animais do circo e não demonstra medo ao estar bem próxima dos tigres. “Trabalhar no Circo é muito bom”, diz.

George Borro (51 anos) e seu filho Jr. (22 anos) vieram da Letônia para apresentar o número dos dogs alemães. Logo cedo já estão a tratar dos cães, o que inclui todos os cuidados necessários, inclusive dar-lhes vitaminas, conferir as vacinas e manter a limpeza da camionete-canil.



Os portugueses Nelson Monteiro (52 anos) e o filho Dario (22 anos) também são de família circense e já fizeram de tudo um pouco. Nelson atualmente está na apresentação dos espetáculos, mas já foi palhaço, domador e fez muitos números cômicos.


A temporada de 2006/2007 também contou com a participação dos saltadores Sebastian Jr., da Hungria, da malabarista Valéria (Argentina) e dos artistas Sacha e Maria.




Rui e Clotilde Mariani

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Monday, November 26, 2007

Turismo - Caves decantam o vinho do Porto


Aroma de uva paira na ribeira de Vila Nova de Gaia. Ali estão as caves do Vinho do Porto, a decantarem a história e o produto, entre a preferência mundial. Experimente fazer uma visita guiada e curta este roteiro, cercado de tonéis, pipas, garaffas, copos com design de Siza Vieira e degustações.

Vila Nova de Gaia - As caves do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, fazem parte do roteiro obrigatório para quem deseja aprofundar-se na história e no sabor do produto mundialmente conhecido. Ao todo, são 17 caves catalogadas pelo Instituto do Vinho do Porto (IVP) e decantam as mais variadas categorias do vinho e as suas histórias seculares, preservadas através de gerações.

O Vinho do Porto é fortificado e produzido na Região Demarcada do Douro. Distingue-se dos vinhos comuns pelas suas características particulares: uma enorme diversidade de tipos em que se surpreende a riqueza e a intensidade de aromas incomparáveis.

Existe um conjunto de designações que possibilitam a identificação dos diferentes tipos de Vinho do Porto e pode ser conhecido através de uma visita às caves de Gaia, onde o produto encontrou seu melhor microclima para armazenagem.

No Museu do Vinho do Porto Sandeman, o único do gênero em Portugal, existe um tesouro de artefactos coleccionados por várias gerações. Foi o escocês George Sandeman quem distribuiu, em 1790, o que é reconhecido como o primeiro e verdadeiro Porto Vintage. Ali é possível, como em todas as caves, fazer uma degustação de algumas safras.

São nos laços de família e de amigos que a Cockburn’s se consolidou. Fundada em 1815, é considerada empresa líder em termos de conhecimentos técnicos e investigação. As suas caves estão na avenida central, toda ela pavimentada em calçada de basalto à portuguesa, com os símbolos da companhia e que percorrem uma imensidão de pipas e toneis de carvalho centenários, onde lentamente envelhecem os melhores lotes de Vinho do Porto.

Na cave do Vinho do Porto Offley existe toda a documentação do negociante, enólogo, pintor e cartógrado Barão Forrester e o seu empenho em contribuir decisivamente para a organização da mais antiga Região Demarcada do mundo, o Douro, através da elaboração dos primeiros mapas detalhados.

Historicamente, a região vitícula do Douro revela que os vestígios dos cultivo da vinha em tempos pré-históricos fundem-se às narrativas do seu incremento no período de ocupação romana. A designação “Vinho do Porto” surge por volta da segunda metade do sec. XVII. O tratado de Methuem, assinado entre Portugal e Inglaterra em 1703, dava tratamento preferencial ao vinho português em relação aos vinhos franceses.

De acordo com o Instituto do Vinho do Porto, no ano pombalino de 1756, reorganizou-se a economia portuguesa e instituiu-se a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Em 1757, o Marquês de Pombal delimitou as melhores áreas de produção do vinho do Vale do Douro, com sólidos marcos de granito, os Marcos de Feitora. Surgia assim a primeira região demarcada.

Para garantir a genuidade do Vinho do Porto, foi fundado em 1933 o Instituto do Vinho do Porto. O IVP é responsável pela certificação e fiscalização da Denominação de Origem “Porto”, controlando a qualidade e a quantidade dos vinhos susceptíveis da obtenção da Denominação de Origem, através da regulamentação do seu processo produtivo e da submissão prévia a um rigoroso controlo de qualidade. Após ser aprovado, o vinho adquire o direito ao uso de denominação “Porto”, ao Selo de Garantia e ao Certificado de Denominação de Origem.

É de Siza Vieira o design dos novos cálices de vinho, que podem ser facilmente encontrados à venda nas caves e que trazem como diferencial o seu suporte, onde é possível segurá-los com mais firmeza e finess.

'Estrada' fluvial e Cheias

A produção do vinho do Douro sempre utilizou-se da grande 'estrada fluvial' que é o Rio Douro para transportar os toneis à Vila Nova de Gaia para sua decantação. Entretando, as caves de Vila Nova de Gaia já conheceram a fúria do Douro e enfrentaram várias enchentes ao longo dos anos. Nas paredes da ribeira podem ser vistas as demarcações das cheias. Pelos registos, uma das mais devastadoras ocorreu em 1909 (ver Douro 1909).

Conheça algumas características dos diversos Vinhos do Porto:

Estilo Ruby – cor intensa, aroma frutado, vigor dos vinhos jovens.
Vintage – proveniente de uma só colheita
L.B.V. (Late Bottled Vintage) – menos adstringente e encorpado que o Vintage
Reserva (Ruby) – resultante da lotação de vinhos jovens
Bottle Matured – envelhece durante um período de três anos
Estilo Tawny – aromas que lembram os frutos secos e a madeira
Tawny – vinhos de elevada qualidade provenientes de lotes de vários anos
Colheita – assemelham a um tawny, mas só comercializados após sete anos após o ano da colheita
Tawny Reserva – cor tinta aloirada, com aromas de frutos secos, torrefacção e madeira
Branco – diferentes graus de doçura
Reserva Branco – tonalidade dourada, boa complexidade de aroma


Caves do Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia:


Calém
Ferreira
Ramos Pinto
Barros
CockBurn’s/Martinez
Croft
Burmester
Kopke
Offley Forrester
Osborne
Quinta do Noval
Romariz
Rozès
Sandeman
Taylor, Fladgate & Yeatman
Graham
Wiese & Kronh


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Saturday, October 27, 2007

A Ciência terá limites?


"Desde os filósofos pré-sócraticos até o presente, a civilização ocidental tem sido virtualmente motivada pela confiança axiomática depositada no progresso científico. Podem ter existido erros (a cosmografia de Ptolomeu), momentos de regressão e de frustração, mas o movimento impulsionador da descoberta e do conhecimento científicos parece ter definido o da própria razão.

A relação do pensamento humano com os avanços científicos foi fundamental para a antropologia, para os modelos da história humano implícitos em Galileu e Descartes. Foi fundamental para o estabelecimento da modernidade, do positivismo e do conceito de verdade nos trabalhos de Newton, de Darwin e dos seus sucessores. Por sua vez, as teorias científicas subscreveram a evolução constante da tecnologia na qual as sociedades ocidentais alicerçaram o seu poder. Tal como Bacon e Leibniz pregaram, as portas do progresso científico teórico e aplicado estiveram sempre abertas, definindo o horizonte do amanhã.

Será que continua a ser assim? Estarão agora à vista certos limites, certas barreiras às nossas expectativas? A possibilidade da Teoria das Cordas não pode ser verificada nem falseada implica uma crise ontológica no seio do próprio conceito de ciência. Há motivos intrínsicos que nos levam a acreditar que a cosmologia e a correspondente exploração do microcosmos são as suas fronteiras.

Não há nenhum instrumento de observação por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das 'paredes douradas' externas ou internas do nosso possível universo local. O conhecimento da consciência tem-se mostrado radicalmente evasivo.

Pode muito bem acontecer que as analogias computacionais constituam um beco sem saída. A incompletude e a indeterminação, exemplificadas pelas obras de Godel e de Heisenberg, são "muros" contra as quais a razão embate em vão. A acentuada diminuição do número de estudantes inscritos em cursos de ciências "duras" no Ocidente é sintomática. Tal como o são as novas ondas do racionalismo, irracionalidade, fundamentalismo e superstição que actualmente se abatem sobre nós.

As conjecturas estarão certamente erradas. A biologia sintética e a biogenética, a biocomputação, o aproveitamento das bactérias em processos industriais prometem avanços espectaculares. A matemática progride, por assim dizer, autonomamente. No entanto, talvez as grandes ciências clássicas e a sua auto-confiança se estejam a desvanecer, o que constituiria uma grande revolução em todos os domínios da consciência e da sociedade.

Esta conferência pretende explorar algumas possíveis consequências. O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o voltar a fazer voar"

George Steiner - Lisboa, 25.11.2007

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