Saturday, October 27, 2007

A Ciência terá limites?


"Desde os filósofos pré-sócraticos até o presente, a civilização ocidental tem sido virtualmente motivada pela confiança axiomática depositada no progresso científico. Podem ter existido erros (a cosmografia de Ptolomeu), momentos de regressão e de frustração, mas o movimento impulsionador da descoberta e do conhecimento científicos parece ter definido o da própria razão.

A relação do pensamento humano com os avanços científicos foi fundamental para a antropologia, para os modelos da história humano implícitos em Galileu e Descartes. Foi fundamental para o estabelecimento da modernidade, do positivismo e do conceito de verdade nos trabalhos de Newton, de Darwin e dos seus sucessores. Por sua vez, as teorias científicas subscreveram a evolução constante da tecnologia na qual as sociedades ocidentais alicerçaram o seu poder. Tal como Bacon e Leibniz pregaram, as portas do progresso científico teórico e aplicado estiveram sempre abertas, definindo o horizonte do amanhã.

Será que continua a ser assim? Estarão agora à vista certos limites, certas barreiras às nossas expectativas? A possibilidade da Teoria das Cordas não pode ser verificada nem falseada implica uma crise ontológica no seio do próprio conceito de ciência. Há motivos intrínsicos que nos levam a acreditar que a cosmologia e a correspondente exploração do microcosmos são as suas fronteiras.

Não há nenhum instrumento de observação por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das 'paredes douradas' externas ou internas do nosso possível universo local. O conhecimento da consciência tem-se mostrado radicalmente evasivo.

Pode muito bem acontecer que as analogias computacionais constituam um beco sem saída. A incompletude e a indeterminação, exemplificadas pelas obras de Godel e de Heisenberg, são "muros" contra as quais a razão embate em vão. A acentuada diminuição do número de estudantes inscritos em cursos de ciências "duras" no Ocidente é sintomática. Tal como o são as novas ondas do racionalismo, irracionalidade, fundamentalismo e superstição que actualmente se abatem sobre nós.

As conjecturas estarão certamente erradas. A biologia sintética e a biogenética, a biocomputação, o aproveitamento das bactérias em processos industriais prometem avanços espectaculares. A matemática progride, por assim dizer, autonomamente. No entanto, talvez as grandes ciências clássicas e a sua auto-confiança se estejam a desvanecer, o que constituiria uma grande revolução em todos os domínios da consciência e da sociedade.

Esta conferência pretende explorar algumas possíveis consequências. O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o voltar a fazer voar"

George Steiner - Lisboa, 25.11.2007

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